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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Professor Harry, Mestre maravilhoso e seu Clubinho de inglês 


Professor Harry, Mestre maravilhoso e seu Clubinho de inglês

A figura inesquecível do Professor Harry Mauritz Lewin

 

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Prefeito Padovan,Vereador Joaquim C. Cintra,Prof.Harry,Milton Valin e Waldomiro Buozzi, na Biblioteca Municipal

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Professor Harry brincando com o guarda-chuvas

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A foto não está boa mas vale. A filha Maria Helena, Prof. Harry e o filho Carlos

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Prof. Harry e o filho Deodoro (Luca)

 

Campos do Jordão sempre foi uma cidade privilegiada, não só pelo seu clima maravilhoso, invejável e ímpar, pelas suas paisagens magníficas, pelas suas montanhas e campos, pelas suas matas e suas araucárias, suas águas, flora e fauna, mas também pelas pessoas maravilhosas e ilustres que por aqui, algum dia, passaram, deram sua importante e inigualável contribuição para a sua grandeza, seu progresso e sua história. O prof. Harry Mauritz Lewin, nascido em 25 de julho de 1909, no antigo Distrito Federal-RJ, filho de Augusto Lewin, de nacionalidade suéca e Adele Luize Hartwig, de nacionalidade alemã, foi um desses. Fez parte do grande time daqueles que, inicialmente, vieram para esta cidade, somente em busca da cura da tuberculose e que, após conseguirem seu intento, aqui permaneceram para nossa alegria e felicidade.

No ano de 1914, com apenas cinco anos de idade, foi para a Inglaterra e, na cidade de Cambridge ou Cantabrígia, antiga cidade inglesa sede do condado de Cambridgeshire, situada a 80 quilômetros de Londres estudou em famosa universidade do mundo anglófono. Lá permaneceu até 1920, quando completou 19 anos. Daí seu total domínio do idioma inglês. Falando e escrevendo fluentemente a língua inglesa, com grande habilidade, durante boa parte de sua vida, como excelente professor, dedicou-se a ensiná-la, a inúmeros alunos que o procuravam para aprender um pouco dessa língua quase universal.

Além dos idiomas, português e inglês que dominava com grande fluência, tinha muita facilidade e bom domínio com outros idiomas, dentre eles, o espanhol, o francês, o italiano, o sueco, alemão e até o grego, considerando que no auge de sua juventude, dominando vários idiomas, foi indicado como adido na Embaixada de Israel, na Grécia.

O Professor Harry foi casado com a Senhora Selma Fernandes Lewin e tiveram sete filhos: Roberto, Carlos, Maria Helena, Rose Mary, Clarence, Paulo e Deodoro.

Tive a oportunidade de conhecer o prof. Harry na década de cinqüenta, quando ele e meu saudoso pai, Waldemar Ferreira da Rocha, resolveram abrir uma imobiliária em Vila Capivari. Inicialmente, a sua sede foi instalada na casa em que morei, situada na Av. Macedo Soares, 306, em frente ao Hotel Bologna, onde, atualmente, está estabelecido o Hotel e Restaurante Itália. A Imobiliária Rocha, de Rocha & Lewin, ali permaneceu por alguns anos.

Posteriormente, o prof. Harry deixou a sociedade por motivos de saúde, e meu pai continuou com a Imobiliária até início da década de noventa, quando, pelo motivo de tempo de serviço prestado, veio a nos deixar para participar do lançamento de áreas celestiais, mais privilegiadas.

No decorrer das décadas de cinqüenta a setenta, o prof. Harry ainda prestou relevantes serviços à nossa cidade e aos seus estudantes, especialmente na área da Educação.

Era, realmente, um professor na acepção exata da palavra. Dominava o idioma português, o inglês, que falava e escrevia fluentemente e, com boa performance, outros idiomas, além do sueco, em virtude dos laços de paternidade, já que seu pai era sueco; dominava com muita habilidade e facilidade a Matemática e a Física e outras matérias relevantes.

Chegou a lecionar Matemática no saudoso CEENE – Colégio Estadual e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão.

Na Imobiliária Rocha, durante todo o tempo em que lá permaneceu, como sócio de meu pai, as correspondências dirigidas às empresas e pessoas que dominavam o idioma britânico eram por ele redigidas em inglês fluente e escorreito. Ainda tenho em meus arquivos boa parte dessas correspondências.

O prof. Harry participou de muitas atividades culturais em Campos do Jordão, prestou serviços para a saudosa Empresa de Ônibus Hotel dos Lagos, concessionária dos serviços de transportes coletivos da cidade, por várias décadas, sendo substituída pela Vila Natal Turismo e esta, posteriormente, pelo Expresso da Mantiqueira.

Uma de suas últimas, notória e histórica atividade prestada na cidade foi a de responsável pela Biblioteca Municipal de Campos do Jordão, por muitos anos.

Na Biblioteca, além de orientar e participar efetivamente de toda a sua organização e montagem, prestou serviço importantíssimo, ímpar, dedicado, invejável e que, dificilmente, voltará a ser prestado por algum outro mestre.

Na correta acepção da palavra, salvou a vida de inúmeros estudantes, especialmente em épocas de provas e de exames de segunda época, modalidade de provas que existiam antigamente para aferir os conhecimentos daqueles que não conseguiam a média necessária para a aprovação direta (em primeira época), aos quais ficava faltando alguns pontos percentuais para aprovação necessária.

Para esta leva de estudantes, com sua paciência a toda prova, seu estilo inigualável e sua simpatia, dedicada e sabiamente, formava grupos de alunos, separados por disciplinas, Matemática, Física, Inglês etc. e na sala principal da Biblioteca Municipal, na única mesa existente, em diversos horários de cedo à noite, incansavelmente, ia verificando os pontos fracos de cada um e ia formulando as suplementações necessárias.

A grande maioria absoluta dos estudantes que recorriam ao prof. Harry sempre obteve sucesso nas provas a que foram submetidos.

Eu recorri muitas vezes aos conhecimentos do sábio mestre, que me salvou várias vezes da reprovação.

Tenho certeza absoluta de que todos aqueles que recorreram ao mestre têm, até hoje, uma saudosa lembrança daqueles tempos e mantêm perpetrados os conhecimentos adquiridos.

Jamais vou me esquecer do seu jeito tranqüilo e seguro de ensinar, especialmente das pausas que fazia após cada explicação de um determinado assunto e, gentilmente, perguntava: “Está compreendendo?”. Se a resposta fosse duvidosa ou negativa, sem dúvida, com a mesma dedicação de sempre, explicava tudo novamente e só sossegava quando a resposta à sua tradicional pergunta fosse afirmativa.

Além desses detalhes, é importante ressaltar que era um exímio ilustrador de suas aulas, através de exemplos sábios e marcantes e de histórias maravilhosas, sempre relacionadas à matéria que estava ensinando, com um bom humor indescritível. A nossa Biblioteca Municipal, durante todo o tempo em que o prof. Harry lá esteve, era o nosso refúgio seguro para o aprendizado necessário, quer rotineiramente ou em casos de emergência.

Em determinada época, nos idos de 1960, o prof. Harry reuniu um grupo de pessoas interessadas em aprender o idioma inglês e começou a ministrar-lhes aulas teóricas e de conversação. Inicialmente, essas aulas aconteceram em sala da Biblioteca, fora do seu horário normal de funcionamento. Posteriormente, essas aulas passaram para o período noturno e foram transferidas para a sede da nossa querida DMTUR – Departamento Municipal de Turismo, em seu prédio de característica inesquecível, situado no local onde hoje está instalada a sede da Telefônica, em frente à Estação de Vila Abernéssia.

Nosso grupo, carinhosamente, denominou de Clubinho de Inglês do prof. Harry esse encontro semanal de interessados em aprender um pouco do idioma britânico.

Lembro-me muito bem do pequeno grupo ao qual, orgulhosamente, pertenci durante todo o seu tempo de existência e que se tornou grande devido ao quilate das demais pessoas que o constituíram, sendo eles os seguintes “students”: o grande homem público, pessoa de relevantes serviços prestados à nossa Campos do Jordão e sua população, Sr. Joaquim Corrêa Cintra, sua maravilhosa esposa, D. Noêmia Damas Cintra, seu irmão, o bancário do renomado e tradicional Banco do Estado de São Paulo, Jonas Corrêa Cintra e da poetisa Iracema Abrantes.

Comandados pelo prof. Harry, cada aluno lia um trecho de algum livro escolhido. Lembro-me de um deles, “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, a história do médico e o monstro, de autoria de Robert Louis Stevenson, de 1886. Após a leitura da cada trecho, o prof. Harry corrigia as pronúncias, eventualmente erradas, pedia para alguém tentar traduzir, corrigia as traduções, fazia comentários sobre a gramática, verbos, significado dos termos e palavras utilizadas etc. Assim, aos poucos, porém seguramente, íamos aprendendo um pouco do idioma inglês.

Lamentamos, na época e muito mais agora, que, infelizmente, esse clubinho de inglês tenha durado pouco tempo. Alguns dos participantes, por diversos motivos, tiveram de parar e, também, o prof. Harry acabou assumindo outras funções que o impediram de continuar.

Apenas mais um registro importante: o prof. Harry era dono de uma caligrafia invejável. Uma letra maravilhosa, perfeitamente legível e uniforme. Chegávamos até a invejar essa sua habilidade. Sua assinatura era linda, perfeita e absolutamente igualzinha. Ele podia fazer várias assinaturas e, se fossemos comparar uma com a outra, não conseguíamos encontrar uma mínima diferença. Tenho algumas anotações de aulas de matemática escritas pelo mestre e guardo com muito carinho, um Atlas Geográfico do Brasil, que ganhei dele com uma dedicatória e a sua famosa assinatura.

Isto é um pouquinho das lembranças mais marcantes que o professor nos deixou.

Após o prof. Harry ter sido promovido no ano de 1971, para Escolas Superiores, felizmente, nossos homens públicos, sabiamente, eternizaram seu nome em nossa Biblioteca Municipal, merecida e acertadamente.

Edmundo Ferreira da Rocha - 25 de abril de 1990.

 

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=56

 

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