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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Hotel Toriba, berço da truta e da fondue 


Hotel Toriba, berço da truta e da fondue

Hotel Toriba - Década de 1950

 

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Para aqueles que já conhecem, de longa data, o Hotel Toriba, é dispensável descrevê-lo. Porém, a intenção é deixar registrado um pouquinho da história incomparável de um dos pioneiros do ramo da hotelaria em Campos do Jordão, ícone da hotelaria brasileira, um dos primeiros com a atividade de lazer no Brasil. De construção baseada na tradicional arquitetura dos Alpes suíços, idealizado por Ernesto Diederichsen e seu genro Luiz Dumont Villares, construído em tempo recorde pelo construtor Floriano Rodrigues Pinheiro, um dos principais pioneiros da construção civil da cidade, com obras iniciadas em 1941, foi inaugurado em 22 de janeiro de 1943.

Simpático, sóbrio e aconchegante, está localizado em área privilegiada da Serra da Mantiqueira, de extraordinária e rara beleza, com aproximadamente setenta mil metros quadrados, com bosques de vegetação quase primitiva, composta de essências nativas, como o pinheiro-do-paraná (araucária angustifólia ou brasiliensis), o pinho-bravo, quaresmeira, manacá da serra e muitas outras; conta com uma vista panorâmica estonteantemente bela, com paisagens a perder de vista, onde a Pedra do Baú, embora localizada no vizinho município de São Bento do Sapucaí, jamais deixará de ser a sua moldura perene, eternamente linda.

Seus jardins sempre foram o principal cartão de visita para os apreciadores das belas flores, arranjos, gramados, cercas vivas e canteiros, preparados com muito bom gosto e cuidados especiais, por hábeis jardineiros.

O Hotel Toriba difere da grande maioria dos hotéis da cidade. Estes, embora com uma freqüência até tradicional, são procurados por freqüentadores que não se preocupam em perpetuar vínculos, e em suas diversas estadas na cidade, costumam variar seus locais de hospedagem, preferindo outros hotéis da mesma categoria ou até de categorias diferentes. O Toriba, por sua vez, considerado por muitos como a extensão de seus lares aqui na Serra, continua sendo freqüentado por gerações de famílias de hóspedes fiéis que vêm e voltam naturalmente, mantendo fortes vínculos de tradição, amizade e preferência, e essa enorme gama de assíduos freqüentadores não o troca por nenhum outro, por mais privilegiado ou moderno que seja, pois nele encontra carinho, atenção, cortesia, amizade e respeito, preocupação constante que vai desde o mais simples dos empregados até os mais graduados, condição vital exigida por seus administradores e proprietários.

Houve quem ousou dizer que a freqüência do hotel é quase sempre a mesma, pois os hóspedes voltam a cada ano e em épocas determinadas. Entretanto, aquele que se hospeda no Hotel Toriba pode dizer que é um privilegiado. Lá, ele pode ficar alheio a todos os acontecimentos do mundo exterior, em contato com a maravilhosa natureza que o cerca, assistindo ao nascer do Sol, sua aparição ousada e furtiva entre a galharada dos pinheiros, escutando o canto da variadíssima passarada, extasiando-se com a revoada de beija-flores sugando o néctar que lhes é oferecido em bebedouros especiais, assistindo deslumbrado e de boca aberta aos maravilhosos e multicoloridos crepúsculos dos finais das tardes, especialmente durante as tardes de inverno. Realmente, é uma oportunidade única e inigualável para aproveitar os momentos de sua estada, esquecendo-se do resto do mundo, dos afazeres, rotinas e correrias do dia-a-dia. De lá, o hospede vai sair descansado, rejuvenescido e com suas “baterias” recarregadas para enfrentar uma nova jornada de trabalho, porém com a firme convicção de que retornará o mais breve possível.

A partir da década de sessenta, acredito, e por mais de vinte anos talvez, o Hotel Toriba contou com a experiência, cortesia e gentileza do suíço Sr. JOSEF JURT que, na função de gerente, comandou as atividades hoteleiras de maneira ímpar, sempre com muita simpatia e educação, contando com o prestimoso e indispensável apoio e trabalho especializado de sua esposa, Sr.a Helga, que, desde que chegou ao Hotel, assumiu a sua governança.

Com muito carinho e ampla visão de bem servir aos hospedes e freqüentadores do tradicional Hotel Toriba, com sua arte, experiência adquirida durante muitos anos de dedicado trabalho e as dicas que aprendeu nas escolas de gastronomia da Suíça, procurou sempre inovar, agradar e, cada vez mais, cativá-los. Introduziu inúmeras especialidades da cozinha suíça, no cardápio ímpar do Hotel. Costumava dizer que é na cozinha que nasce um grande hotel.

Por intermédio deste resumo das coisas boas da culinária do Hotel Toriba não é permitido deixar de mencionar o fabuloso café da manhã, onde são servidas as delícias elaboradas no próprio hotel, por meio de seus excelentes cozinheiros, como as magistrais geléias de framboesa e amora, os incríveis e indescritíveis pães e “croissants”, as tortas doces e salgadas, os queijos; enfim, tudo aquilo que um bom “gourmet” aprecia e valoriza durante a hospedagem nos hotéis por onde passa.

Também é impossível deixar de mencionar o chá da tarde que é servido aos hóspedes e visitantes, com iguarias divinas, doces celestiais que, como dizia um amigo de longa data, “são delícias para se apreciar, saborear e degustar, rezando”.

Duas especialidades, porém, a truta azul e a fondue de queijo, introduzidas no início da década de sessenta, fizeram tanto sucesso que, ainda hoje, depois de tanto tempo, fazem parte integrante de seu extenso e variado cardápio e acabaram sendo copiadas por uma infinidade de hotéis e restaurantes, não só daqui de Campos do Jordão, como também de inúmeras de cidades deste imenso Brasil.

Infelizmente, muitas coisas originais que foram introduzidas nestes Campos do Jordão por seus criadores exclusivos, hoje já são utilizadas e divulgadas como de autorias muito diversas daquelas verdadeiras, maculando a história real, pois, lamentavelmente, não foram devidamente registradas.

O que vai adiante é muito importante e deve ficar registrado de maneira bastante clara, evitando possíveis dúvidas futuras, até normais de acontecer e, mais que isso, evitando que algum aventureiro pretensioso e inescrupuloso queira se valorizar, tentando arrebatar as glórias que não lhe pertencem. A Truta Azul e a Fondue de Queijo foram introduzidas aqui em Campos do Jordão, tendo como berço o Hotel Toriba, pela habilidade e pelo conhecimento gastronômico do grande Chef Josef Jurt. Que nunca se esqueçam deste importante detalhe.

“Seo” Jurt, inicialmente nesses dois pratos maravilhosos, no início procurava, pessoalmente, imprimir nas receitas o seu mais alto conhecimento e experiência gastronômicas – talvez daí o grande sucesso que os mantêm até hoje como os mais solicitados e procurados pelos amantes dessas delícias.

Lembro-me muito bem de que o “Seo” Jurt, com quem conversei sobre culinária inúmeras vezes, tanto lá no Hotel Toriba como em meu local de trabalho, onde com certa freqüência aparecia, dando-nos assim a honra de sua visita, deu-me muitas dicas de culinária. Com relação à truta azul, ele fazia questão de frisar que ela deveria ser limpa com muito cuidado, evitando-se eliminar aquela gosma que fica em sua pele, pois é ela a grande responsável em dar à truta aquela tonalidade meio azulada, quando em contato com o vinagre que é utilizado na sua preparação. Também insistia que a truta, ao ser assada em uma chapa ou frigideira ou frita na manteiga etc., deve ficar, no máximo, de cinco a oito minutos de cada lado, nunca mais que isso, facilitando, na hora de ser servida, a retirada de sua espinha dorsal, evitando que os espinhos se soltem e prejudiquem a degustação da carne preciosa e saborosa.

Com relação à fondue de queijo, ele também dava as suas dicas especiais sobre os tipos de queijos que deveriam ser utilizados para o seu preparo, os cuidados na hora de adicionar o Kirch, o vinho branco e os demais ingredientes. Também costumava dizer, modestamente, que ele considerava a fondue de queijo do Hotel Toriba melhor que a da Suíça, sua terra natal.

Claro que, depois da introdução da fondue de queijo, vieram os demais que muitos não gostam de identificar como fondue, especialmente o “bourguignonne”, de carne que, no meu ponto de vista, além do seu maravilhoso sabor natural, ainda é enriquecido com os molhos divinos, possibilitando uma excelente opção de lazer junto com amigos e familiares, especialmente nas noites frias de inverno, ao som de uma boa música e ao calor das aconchegantes lareiras. Com relação a esse, o “Seo” Jurt também deu muitas dicas para a preparação de inúmeros e variados tipos de molhos utilizados como acompanhamento. Paralelamente surgiram o “chinoise”, com frutos de mar, e o de chocolate com frutas frescas que, acredito, nada impede de ser chamado de fondue, pois, na realidade, não deixa de ser um chocolate fundido.

Quando me casei, em julho de 1974, o “Seo” Jurt fez questão de me presentear com um belíssimo aparelho para fondue, bastante prático e versátil; pode ser utilizado para qualquer uma das modalidades mencionadas.

Saudades do “Seo” Jurt e de suas dicas gastronômicas.

Depois que deixou a Gerência do Hotel Toriba mudou-se para a cidade de Campinas onde, juntamente com seus filhos e sua esposa, montou uma belíssima Confeitaria.

Acredito que, hoje, deve estar gerenciando alguma unidade hoteleira especial, nesse vasto Universo celeste, para felicidade de todos aqueles hóspedes e clientes que já o conheciam de longa data aqui no especialíssimo Hotel Toriba de Campos do Jordão.

Edmundo Ferreira da Rocha

01/07/1994

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

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