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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Salvos da enchente, graças a Deus! 


Salvos da enchente, graças a Deus!

Imagem de uma grande enchente

 

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Na década de 1950, por volta do ano de 1955, eu morava na Av. Emílio Ribas, 908, ali no bairro da Vila Capivari, numa casa alugada por meu pai, de propriedade do saudoso amigo Sr. Adauto de Camargo Neves. Essa casa ficava exatamente ao lado do atual Hotel JB, nas proximidades do tradicional Posto Esso de Capivari. Nessa época não existiam ainda o Hotel JB, Hotel Sagres e aqueles edifícios ao lado e atrás do Posto Esso, do saudoso Sr. Wilson Brügger. Na direção dos fundos dessa casa, existia somente um prédio antigo dividido em duas partes. Do lado esquerdo de quem olhava para o prédio, ficava o estabelecimento “Casa B. O. Miranda”, do Sr. Benedito Olimpio Miranda, com o ramo de artigos para vestuário e tecidos, administrado pelo saudoso Sr. Moreira. Do lado direito, o estabelecimento denominado “Casa Ferraz”, de propriedade do saudoso Sr. Alberto Bernardino, lusitano de boa estirpe, tendo no comando sua dedicada esposa, a também saudosa D. Gracinda – eram os pais do Albertinho, meu companheiro e colega de ginásio, competente empresário que, iniciando com o tradicional Hotel Estoril deixado pelos pais, hoje é o proprietário de uma rede de quatro hotéis de turismo em Vila Capivari.

Toda aquela área onde hoje estão os hotéis JB, Sagres e outros prédios era enorme, somente coberta por uma baixa e reduzida vegetação, tendo, inclusive, um gramado natural bem ao lado da Rua Dr. Camilo de Morais, lateral do Posto Esso, com a especial e famosa grama quicuio. A garotada que morava nas proximidades – dentre eles eu, o Walter Araújo, o Uru, seu irmão Wilson, que chamávamos de Virso, o José Milton, o Baltazar, o José Luiz Sagesse, o Paulinho Andrade, o Batatinha, seu irmão Vicente, o Walter do Cornélio, o Nelsinho e o Gugu Brügger, filhos do Sr. Wilson, dono do Posto Esso, o Edimar, neto do Sr. Miranda, o Manezinho de Fátima, filho da D. Laura, irmã da D. Gracinda e até outros que moravam mais distantes, como o Zé Eleutério, o Zé Meu Fio, seu irmão Chicão, o Mirinho Adão e o Orlando Jacaré, o Adelson Alves, o Chinho e alguns outros – transformou a área em um ajeitado e aconchegante campinho de futebol. Colocamos até as traves dos gols, feitas com varas de bambu. Nesse campinho, quase todos os dias, de segunda a domingo, sempre na parte da tarde e após o almoço, passávamos várias horas jogando bola ou futebol.

Num determinado domingo, quando estávamos no campinho jogando o nosso futebolzinho, caiu uma chuva torrencial. Corremos para o Posto Esso do Sr. Wilson Brügger e nos abrigamos no enorme espaço coberto, destinado aos serviços de lavagem e lubrificação de veículos. Ficamos ali por uns quarenta minutos, aproveitando para bater um papo e fazer muitas brincadeiras. Quando a chuva passou, um amigo que residia ali nas proximidades, às margens do Rio Capivari, o Walter Araújo, o Uru – que, ao invés de ficar conosco no início da chuva, correu para sua casa –, voltou e apavorado nos disse: ”Vocês não imaginam o tamanho da enchente que está lá no Rio. Ela está quase atingindo a minha casa”. Criança é bicho curioso. Fomos todos correndo para lá para ver a volumosa enchente. Realmente a enchente era muito grande. A água já havia subido por cima de todas suas margens e alagava as áreas ao seu redor. A casa em que o Walter morava ficava nas proximidades de uma ponte de madeira, mesmo local de uma nova ponte atualmente existente, que dá acesso para a atual Av. José de Oliveira Damas, quase em frente aos atuais e tradicionais “Parque Hotel” e “Restaurante do Tio Lé”. Ao lado dessa ponte, atualmente, há um comércio diversificado. Na época, só existiam umas quatro ou cinco casinhas simples, de pau a pique, até cobertas de sapé, onde moravam algumas famílias bem pobres, que criavam cabras para tirarem e venderem leite, umas duas vaquinhas, com a mesma finalidade, e tinham alguns cavalos para alugarem nas temporadas de férias.

A criançada – inclusive eu, e, nessa oportunidade, contando com a presença do nosso amigo Paulinho Reusing, curiosos para ver a enchente –, resolveu seguir por um estreito caminho, até longo, mais ou menos uns quinhentos metros, que começava no quintal das casinhas acima mencionadas. Esse caminho bastante estreito possibilitava o tráfego de cavalos e, com muito cuidado, carroças e charretes. Ele passava por dentro de uma mata densa de pinheiros, pinheiros-bravos e vegetações diversas. Passava, também, próximo a uma baixada até bastante extensa com diversos tipos de arbustos, gramíneas e capins diversos. Não era um brejo propriamente dito, e sim uma área que ficava sempre molhada com as constantes águas das chuvas, que caíam no período de outubro a março de cada ano, normalmente chamada pelas pessoas mais antigas de “época das chuvas”. A terra não conseguia absorver totalmente a água da chuva. A pouca água que ali ficava parada, uns quatro ou cinco dedos de altura, era suficiente para criação de grande quantidade de sapos diversos. Nessa área, atualmente, está sediada a propriedade pertencente aos herdeiros do saudoso Giuseppe Pelizolla, o conhecido Zé Italiano que, durante muitos anos, nela mantinha baias de aluguel e, também, as suas baias onde cuidava dos seus lindos e bem cuidados cavalos de aluguel. Nessa área, atualmente, estão instalados vários galpões comerciais de pequenas lojas especializadas em lembranças locais, artigos, roupas e blusas de lã etc. O caminho acima mencionado passava bem junto ao sopé dos morros da Tartaruga e Elefante, e davam acesso até a ponte de concreto, ainda existente, ao lado do teleférico. No lugar desse caminho, atualmente, está localizada a Av. José de Oliveira Damas.

O Paulinho Reusing residia em Vila Abernéssia. Era filho do Sr. Gustavo Reusing e de D. Jandyra, saudoso casal, ele proprietário do famoso Posto Gulf, de combustíveis e lubrificantes, na época, localizado onde, atualmente, está sediado o Conjunto Ipiranga, de propriedade de um de seus irmãos, o Walter Reunsig.

Caminhamos, quase sempre, procurando ficar próximos das margens do Rio Capivari, para podermos ver o volume da água da enorme enchente e a sua vigorosa correnteza, arrasando tudo o que existia à sua frente e aos seus lados. Quase nas proximidades daquela lanchonete que existe atualmente, na Praça vereador Danilo Delácio, antes da Ponte do Teleférico (sentido Parque Hotel-Recanto Feliz), muitas árvores, especialmente pinheiros-bravos com fortes troncos tortos, alguns barrancos na margem do rio, algumas vegetações de pequeno porte e até rasteiras. Paramos ali próximo ao barranco e ficamos vendo a forte correnteza. O volume da água era imenso. Com certeza, estava a uns três ou quatro metros acima do leito normal do Rio Capivari que, normalmente, passava bem abaixo desse barranco.

Em dado momento, alguns dos amigos começaram a tirar a roupa e diziam que iam mergulhar no rio. Fiquei apavorado e pedia para que não fizessem aquela loucura. A correnteza era muito forte. Poderiam ser arrastados pelas águas e morrer afogados. Vários desistiram da intenção. O danado do Paulinho Reusing e mais uns dois continuaram firmes nos seus propósitos. Ao invés de pularem no rio, porém pelados, abaixaram, seguraram em várias raízes de árvores que, com a força das águas tirando terra do barranco, haviam ficado bem visíveis na margem do rio, e ficaram com os corpos quase totalmente dentro das águas da forte correnteza. Tiveram a coragem de ficar batendo com os pés e pernas nas águas sujas da enchente. Eu estava apavorado e, infelizmente, nada podia fazer. Eu não sabia nadar e tinha um medo danado da enchente. Por isso, ficava olhando e pedindo para saírem dali, sempre resguardando determinada e segura distância. Eu ficava até vendo o Paulinho e outros sendo tragados pela forte enchente. Felizmente, depois de alguns e angustiantes momentos, resolveram sair das águas da enchente, sempre segurando nas raízes expostas na margem da enchente.

Imaginem se aquelas raízes onde estavam segurando, com a forte correnteza e o peso de seus corpos, viessem a se romper. Com certeza, todos que fossem tragados pela forte enchente e aquela correnteza totalmente destrutiva teriam morrido afogados, sem a mínima chance de sobrevivência.

Graças a Deus, nada de desastroso aconteceu, todos se salvaram. Até hoje, quando me lembro daquele dia e daqueles momentos angustiantes de extremo medo e terror, fico arrepiado. Sempre agradeço a Deus por ter estendido seus braços generosos, divinos e onipotentes, amparando aquelas crianças, meus eternos e queridos amigos, dando-lhes a grande e divina chance de permanecerem nestas paragens terrenas onde puderam ser felizes e importantes para todos, especialmente para as famílias que puderam constituir.

Edmundo Ferreira da Rocha

15/02/2015

 

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