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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

OS CEDRINHOS DE VILA ABERNÉSSIA 


OS CEDRINHOS DE VILA ABERNÉSSIA

Na foto da década de 1940 a cerca viva de cedrinhos que existia ao longo da ferrovia, desde a Parada Fracalanza e antigo Sanatório Sírio, até proximidades do antigo Cine Glória.

 

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Na foto da década de 1940 a cerca viva de cedrinhos que existia ao longo da ferrovia, desde a Parada Fracalanza e antigo Sanatório Sírio, até proximidades do antigo Cine Glória.

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Corria o ano de 1948 e Campos do Jordão era administrada pelo prefeito Orestes de Almeida Guimarães, um advogado que prestou bons serviços à Estância.

Preocupou-se com a urbanização do centro da cidade, cujo aspecto era lamentável, introduzindo o plantio de plátanos nas vias públicas, cujas primeiras mudas tinham vindo da Argentina.

Havia muitas restrições por parte da Câmara dos Vereadores ao plantio de plátanos, pois entendiam alguns que não se tratava de árvore nacional, típica da região, peculiar a Campos do Jordão.

O prefeito foi obrigado a iniciar campanha de esclarecimento público, exibindo fotografias de plátanos plantados nas principais estações de inverno do mundo.

Era uma árvore, dizia, de imponente beleza ornamental.

As primeiras mudas, que jaziam, de há muito, no pátio da estação ferroviária de Vila Abernéssia, foram plantadas na avenida de ligação, atual Emílio Ribas, da Parada Damas até Vila Capivari. Suas folhas largas são prateadas em um de seus lados.

Uma outra batalha, porém, estava reservada ao prefeito Orestes de Almeida Guimarães: pretendia o alcaide cortar os cedrinhos de Vila Abernéssia, que acompanhavam a via férrea da E. F. Campos do Jordão, separando-a da Avenida Januário Miráglia, desde a Prefeitura Municipal até Vila Fracalanza.

Um dia o prefeito resolveu cortá-los.

Pediu autorização ao eng. Eynaldo Ramos, diretor da Ferrovia, que respondeu negativamente, pois os cedrinhos serviam de proteção à linha férrea, impedindo o trânsito de crianças, pedestres e animais, garantindo a segurança do tráfego de automotrizes.

Um sonoro não ouviu Orestes de Almeida Guimarães, que, irresignado, no entanto, prosseguiu na sua luta.

O Diretor da Estrada confirmou, porém, a proibição: - Enquanto eu for diretor da Ferrovia, ninguém corta os cedrinhos!

O saudoso Joaquim dos Santos Machado, conhecido como “Joaquim Fogueteiro”, era o chefe da estação de Abernéssia. Sabedor das ordens do chefe, colocou logo um trabuco na cintura, procurando mostrar, ostensivamente, que a ordem era para ser cumprida.

O apelido de Joaquim Machado advinha do fato de ser o responsável pelo formidável foguetório que desencadeava quando o Dr. Adhemar de Barros desembarcava em Campos do Jordão, em automotriz da E. F. Campos do Jordão.

Orestes Guimarães pediu a intercessão do Governador do Estado, de secretários e de deputados e nada! Eynaldo Ramos estava irredutível: a manutenção dos cedrinhos atendia a imperativo do bem público.

O prefeito, por sua vez, contra-argumentava que pretendia urbanizar o centro de Vila Abernéssia, como exigiam o povo jordanense e os veranistas: seu aspecto físico atentava contra as mínimas normas de urbanismo.

O impasse estava criado e as posições radicalizadas.

O prefeito era um homem voluntarioso, decidido e, às vezes, até arbitrário, quando o bem público o exigia.

Esgotados os limites de sua paciência, um belo dia reuniu os seus assessores e decidiu:

- Vou cortar os cedrinhos de Vila Abernéssia, custe o que custar!

Preparou tudo nos seus mínimos detalhes: um punhado de operários, munidos de machadões e serras, caminhões e servidores prontos para o transporte. Tudo sob o máximo sigilo.

O corte começaria de madrugada, lá pelas 3 horas, quando não havia tráfego de bondes e o agente “Joaquim Fogueteiro” dormia a sono solto.

Na madrugada e hora aprazadas, foi dada a ordem: - Mãos à obra!

Dezenas de pessoas começaram a cortar e transportar cedrinhos no mais completo silêncio, desde o prédio da Prefeitura até a Parada Viola.

Quando o relógio marcava 6 horas da manhã, já haviam sido cortados todos os cedrinhos e metade já, havia sido transportada para o almoxarifado da Prefeitura.

Naquela manhã, quando Joaquim Machado apareceu na plataforma para iniciar a sua faina diária de chefe de estação e não mais enxergou a cortina de cedrinhos que separavam a via férrea da avenida Januário Miráglia, ficou lívido e quase apoplético. Depois, começou a gritar:

- Polícia! Polícia!

Sacou do revólver e, aos berros, verberava:

- Quem fez isso? Eu mato! Eu mato! Chamem depressa o diretor.

Qual o quê! levou duas horas para o Diretor chegar, vindo de Pindamonhangaba.

Tudo inútil. Nada mais restava dos cedrinhos que enfeiavam o centro de Vila Abernéssia.

Depois que os ânimos se serenaram, decorrido algum tempo, mudas de plátanos começaram a ser plantadas na Avenida Januário Miráglia em lugar dos cedrinhos. Estão lá até hoje, ornamentando o centro de Vila Abernéssia.

Quem os admira ou se abriga sob suas folhas generosas não imagina quão penosa foi a luta do prefeito Orestes de Almeida Guimarães...

OBS: Do livro Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão, da autoria de Pedro Paulo Filho,”O Recado, Editora Ltda.”,1988 - páginas 46 a 48.

15/03/1987

 

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