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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Luiz Rocha, o carpinteiro que fazia brinquedos 


Luiz Rocha, o carpinteiro que fazia brinquedos

Luiz Ferreira da Rocha

 

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Luiz Ferreira da Rocha

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Luiz Ferreira da Rocha e a esposa Franscisca Carlquist

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Esta é a famosa serra de volta ou curva que tio Luiz Rocha usava para fabricar os brinquedos.

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Na ausência de brinquedos fabricados pelo tio Luiz Rocha, este lembra aqueles caminhoezinhos que ele fabricava. Somente a carroceria não era de madeira e sim de latas de óleo usadas.

 

Luiz Ferreira da Rocha, meu tio, irmão mais velho de meu pai, Waldemar, pertencentes à grande prole do casal Joaquim Ferreira da Rocha e Maria Gürtler Rocha, nasceu no Rio de Janeiro (21.03.1898 / 1980). Luiz Rocha, como era mais conhecido, durante grande parte de sua vida dedicou-se às nobres profissões de carpinteiro e marceneiro. Trabalhou na construção de grandes madeiramentos de importantes obras da construção civil em Campos do Jordão. Entre as inúmeras obras em que trabalhou, prestou serviços na construção dos sanatórios Santa Cruz, N.S. das Mercês, Divina Providência e nos hotéis Toriba e Umuarama. Nesse trabalho, contou sempre com a companhia de meu pai, Waldemar, o décimo da família, e João, o terceiro na ordem de irmãos. Luiz Rocha e outros carpinteiros/marceneiros, entre eles o saudoso José Maiolino, foram os principais responsáveis pela elaboração do lindo madeiramento do principal salão do nosso Palácio Boa Vista de Campos do Jordão que, até hoje, encanta jordanenses e visitantes. Na época, trabalhavam para a “Construtora Pinheiro”, pertencente ao meu tio Floriano Rodrigues Pinheiro, casado com a Izabel, a segunda da família. A “Construtora Pinheiro” foi sucessora da anterior Construtora “Rocha e Pinheiro”, de propriedade de meu avô Joaquim e do genro Floriano.

Luiz Rocha, na juventude, homem muito valente e de força indescritível, era daqueles que nunca levavam desaforos para casa. Qualquer descontentamento e desentendimento que viesse contrariar seus ideais, propósitos, paciência e idoneidade eram motivos para brigas violentas, em que, devido à sua grande força física, sempre acabava por levar vantagem. Algumas vezes acabou se envolvendo em brigas de terceiros, sempre procurando defender aqueles que, de alguma forma, estavam sendo injustiçados, até em desvantagem física. Mesmo assim, por todas as brigas em que acabou se envolvendo, jamais teve seus oponentes como inimigos. Ao contrário, a grande maioria deles acabou fazendo parte da sua extensa galeria de amigos, reconhecendo a grandiosidade da sua personalidade e bondade de seus propósitos.

Luiz Rocha, durante grande parte da sua vida, dedicou-se ao estudo e à prática da Doutrina Espírita, codificada pelo grande Alan Kardec. A partir dessa sua convicção, tornou-se pessoa completamente diferente daquele jovem briguento, até exibicionista de sua grande força física, do início de sua vida. Foi homem de grande bondade, de coração aberto e voltado para ajudar o próximo. De palavras sábias, calmas, certas, justas e amigas, angariou grande número de amigos e seguidores de seus propósitos em prol dos menos favorecidos.

Aqui em Campos do Jordão, durante boa parte das décadas de 1940 e 1950, Luiz Rocha e a esposa, Francisca Carlquist, moraram, quase sempre, no local conhecido na época, até hoje pelos mais antigos, como bairro da Usina, local onde estava sediada a Usina Hidroelétrica “Evangelina Jordão”, a primeira a gerar energia elétrica para a cidade de Campos do Jordão, idealizada e construída pelo escocês Robert John Reid e por Alfredo Jordão, construída por Floriano Rodrigues Pinheiro, com início no ano de 1918. Posteriormente, o Dr. Reid comprou a parte do sócio Alfredo Jordão e, no dia 15 de agosto de 1919, inaugurou a usina, para felicidade do povo de Campos do Jordão.

Luiz Rocha e a esposa Francisca tiveram dez filhos. Infelizmente, todos faleceram, nove logo após o nascimento e somente um, de nome Walter, foi o que conseguiu viver uma semana.

Luiz Rocha e Francisca, com diversos amigos, todos ligados ou simpatizantes dos ideais da Doutrina Espírita, organizavam anualmente grandes festividades de Natal. Minha tia Francisca e diversas amigas, durante boa parte do ano, iam fazendo grande quantidade de lindas bonecas de pano, cachecóis, blusinhas de lã e outros presentinhos especiais para serem entregues às meninas pobres da cidade, na véspera de Natal, ocasião em que organizavam maravilhosas festividades inesquecíveis, durante as quais distribuíam, também, grande quantidade de doces, salgadinhos, sanduíches, sucos e refrigerantes para todas as crianças, pais e acompanhantes. Eram festas memoráveis e gratificantes para todos.

Enquanto minha tia Francisca e amigas se dedicavam à confecção dos presentes destinados às meninas pobres, meu tio Luiz Rocha, algumas vezes auxiliado por amigos do mesmo ideal, ia, durante grande parte do ano, confeccionando os presentes que seriam entregues aos meninos pobres da cidade durante a festa realizada na véspera do Natal.

Durante os meses que antecediam dezembro e Natal colecionava latas de óleo de cozinha que, na época, eram latas de formato retangular e não redondas como as atuais. Com essas latas e habilidade artesanal, abria um dos lados maiores delas, arrematava devidamente os cortes, evitando que eles viessem a machucar qualquer criança, pintava e utilizava essas latas como carrocerias dos caminhõezinhos que iriam ser elaborados para serem entregues aos meninos. Os chassis desses caminhõezinhos e as rodinhas eram feitos de madeira, normalmente de sobras de tábuas descartadas das obras e oficinas em que trabalhava. Meu tio Luiz Rocha, nas suas horas de folga, com o auxílio de serra de volta ou curva, como era chamada, numa época em que não existiam serras tico-tico de bancada, movidas a motor, ou as elétricas manuais, as serras copo ou equivalentes – eram as únicas ferramentas de uso manual que possibilitavam o corte em curvas e voltas – ia serrando as partes de madeira, especialmente as rodinhas, que iriam compor os carrinhos e caminhõezinhos.

Fabricava, também, cavalinhos usando para isso cabos de vassouras, aos quais afixava, cabeça de cavalo recortada em madeira, devidamente pintada, incluindo crina feita de pedaços de corda de sisal desfiada e rédea de corda fina. Em alguns, na outra ponta do cabo da vassoura, colocava uma rodinha para facilitar a cavalgada dos cavaleiros mirins que iriam receber e desfrutar dos presentes na véspera do Natal.

Esse trabalho minucioso, feito com muito carinho, respeito e dedicação, foi parte do compromisso social assumido pelos meus tios Luiz Rocha e Francisca durante grande parte de suas vidas.

Luiz Rocha foi o carpinteiro/marceneiro que fabricava brinquedos de madeira, dedicando boa parte de sua vida nesse trabalho simples, porém muito significativo, para alegrar os corações das crianças pobres de Campos do Jordão, durante as décadas de 1940 e 1950, demonstrando, da melhor forma que escolheu, que Papai Noel estava presente naquelas oportunidades.

Quando, por motivo de saúde, teve de mudar de Campos do Jordão, passou a residir na cidade de Lorena, no Vale do Paraíba, onde, com a esposa Francisca, continuou com esse trabalho benemérito e gratificante.

Em Lorena, Luiz Rocha foi mais adiante, além de construir um Centro Espírita ao qual deu o nome de “Maria de Nazareth”, para as reuniões visando à divulgação da Doutrina Espírita, construiu às suas expensas, no terreno ao lado de sua casa, um albergue para velhinhos, ao qual deu o nome de Albergue “Dr. Bezerra de Menezes” que, mesmo após seu falecimento há mais de trinta anos, continua em franca atividade, dentro dos mesmos propósitos por ele escolhidos e determinados.

Para terminar estes relatos, não posso deixar de registrar que jamais poderei me esquecer das orações proferidas pelo tio Luiz Rocha. O Pai-Nosso e a Ave-Maria que ele rezava antes das reuniões em que participava eram de uma profundidade muito grande. Seu suave tom de voz, a clareza de suas palavras, a maneira especial que as proferia são inesquecíveis. Lamento de várias coisas que deixei de fazer em minha vida, uma delas foi ter deixado de gravar uma dessas oportunidades.

Luiz Rocha foi um homem bom que dignificou sua profissão, sua família, seus amigos, sua comunidade e que deixou muita saudade. Com certeza, ele e minha tia Francisca, onde estiverem nesse nosso imenso e desconhecido Universo, estarão sempre trabalhando em prol de todos aqueles menos favorecidos pela sorte, procurando trazer felicidade, alegria, amparo e conforto nas horas mais difíceis.

Campos do Jordão, 12 de agosto de 2010. Edmundo Ferreira da Rocha

12/08/2010

 

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