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Fotografias que contam a história de Campos do Jordão.

 

 Bertha de Moraes – Enfermeira da Segunda Guerra Mundial


Bertha de Moraes - Enfermeira da Segunda Guerra Mundial junto à F.E.B. - Força Expedicionária Brasileira.

Bertha de Moraes - Enfermeira da Segunda Guerra Mundial junto à F.E.B. - Força Expedicionária Brasileira.

 

A Segunda Guerra Mundial aconteceu no início do século XX, envolvendo nos conflitos mais de setenta países. Essa guerra teve início em 01 de setembro de 1939 e somente terminou em 02 de setembro de 1945. Mais de cem milhões de militares foram envolvidos nessa guerra, acarretando a morte de aproximadamente setenta milhões de pessoas. Até hoje é considerada o maior e mais sangrento conflito de toda a história da humanidade.

É importante registrar que, de acordo com comentários de muitos pracinhas, as motivações que levaram o Brasil a participar dessa guerra consideraram que a causa estava centrada nas agressões perpetradas por submarinos da Alemanha e da Itália, que resultaram no afundamento de navios e na morte de centenas de brasileiros. Bertha de Moraes Nérici, que serviu como enfermeira, descreve o sentimento que pairava: “havia uma vibração fortíssima e também uma indignação muito grande com relação ao torpedeamento dos nossos navios, inclusive navios de passageiros. O espírito de revolta contagiou civis e militares e foi feita a convocação pelo jornal” – do livro “Testamento de uma Enfermeira” de 2001, página 196, da autoria de Bertha de Moraes Nérice, relatando sua dolorosa experiência na 2ª Guerra Mundial.

Nessa segunda guerra mundial, Campos do Jordão, cidade com baixa densidade demográfica, que não possuía, em 1944, mais do que 20 mil habitantes, sem expressão política, também teve sua inigualável participação histórica na 2ª Guerra. Jordanenses deram exemplos edificantes, fizeram história e orgulham nossa cidade. Foi relevante a participação da Estação de Cura à Força Expedicionária Brasileira – FEB. Três pracinhas jordanenses guindaram Campos do Jordão a uma invejável contribuição cívica, na memorável campanha da Força Expedicionária Brasileira – FEB, no teatro de operações da Itália, na Segunda Guerra Mundial. Três jordanenses participaram do campo de operações: Antonio Bento de Abreu, morto em Montese, na Itália, pela artilharia alemã; José Garcia de Mello e Vicente Francisco de Paula, que retornaram vivos a Campos do Jordão.

Impõe-se também registrar a participação da jordanense adotiva Bertha de Moraes, a quarta no campo de operações da Itália. Bertha de Moraes (Santana de Parnaíba-SP.- 02/11/1921 - 14/06/2005) foi a primeira voluntária a compor o Corpo de Enfermagem da Força Expedicionária Brasileira – FEB. Nascida em Santana do Parnaíba, pequena cidade do estado de São Paulo, filha de Antonio Cunha de Moraes e Palmyra Oliveira de Moraes, pertenceu e foi diplomada na primeira turma do curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército – CEERE e prestou serviço como voluntária socorrista. Ficou conhecida em todo o Brasil no ano de 1942. Foi a primeira mulher brasileira a se alistar como enfermeira da Força Expedicionária Brasileira com a finalidade de partir para o teatro de operações da Segunda Guerra Mundial na Itália, a fim de combater o nazifascismo. Na época, tinha somente vinte e um anos de idade e morava com uma irmã no Rio de Janeiro. No dia (08 de julho de 1944) 04 de agosto de 1944, as enfermeiras embarcaram sem avisar a seus familiares. Bertha, a única paulista do grupo, partiu de Natal - RN para a Europa, via aérea, com o 2º grupo, com destino a Nápoles, na Itália, e se incorporou a uma das unidades do V Exército Norte-Americano, comandado pelo general Mark Clark. Bertha foi a voluntária número 01 e a enfermeira com mais tempo de serviço.

“No front serviu nos seguintes hospitais de Sangue Norte-Americanos, nas Enfermarias Cirúrgicas: 10th Station Hospital, em Cevitavecchia e no 64th General Hospital, em Ardenza. Nas Salas de Operações: 38th Evacuation Hospital (Santa Lucce), em Cecina e Pisa. Foi integrada no 24th General Hospital, em Florença, Marzabotto, Parola e Salssomaggiore, 16th Evacuation Hospital, em Pistoia, 15th Evacuation Hospital, em Corvela e, finalmente, aguardando a ordem de retorno ao Brasil, no 35nd Field Hospital, em Sparanise (Nápoles).

Retornou ao Brasil no dia 03 de outubro de 1945, viajando com o último grupo no navio James Parker.

Após o fim da guerra, Bertha, que teve o maior tempo de campanha no serviço de saúde, foi promovida ao posto de 1º Tenente e, posteriormente, promovida ao posto de Capitão. Seu licenciamento do Serviço Ativo do Exército aconteceu em 28 de dezembro de 1945, sendo condecorada pelo Exército Brasileiro com a Medalha de Guerra e Medalha de Campanha.” (Altamira Pereira Valadares – Álbum Biográfico das Febianas – Batatais/SP – Centro de Documentação Histórica do Brasil, 1976.)

Logo após retornar da Itália, foi acometida pela tuberculose e veio para Campos do Jordão na década de 1950, em busca do tratamento e da cura, e aqui residindo por 10 anos. Curou-se em um dos sanatórios especializados de Campos do Jordão.

Casou-se com o eminente educador professor Imídeo Giuseppe Nérici, também ligado a Campos do Jordão, onde dirigiu, por vários anos, o Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão, o saudoso CEENE. Pelo casamento passou a chamar-se Bertha de Moraes Nérici. O casal teve um único filho, chamado Bruno Nérice.

Bertha de Moraes Nérice escreveu o livro “Testamento de uma Enfermeira”, relatando sua dolorosa experiência na Segunda Guerra Mundial. Contou seu marido que, quando surgiu a Hidrazida, poderoso remédio descoberto para a cura da tuberculose, encomendou da Suíça uma amostra do Laboratório Sandoz, mas, infelizmente, foi furtada nos correios. Pediu outra dose e encaminhou para dona Bertha em Campos do Jordão. Vindo seu marido visitá-la em Campos do Jordão, soube que dona Bertha não havia tomado o remédio milagroso; fornecera a outra paciente que se encontrava em pior estado. O marido encomendou pela terceira vez a Hidrazida e aí ela tomou, tendo adquirido uma melhora extraordinária.

Em reunião da Academia de Letras de Campos do Jordão, do ano de 1990, Bertha de Moraes Nérice, que era uma das confreiras pertencentes à Academia, foi homenageada. Anteriormente, no dia 16 de julho de 1990, ela havia recebido grande honraria do Exército brasileiro. Havia recebido a medalha “Marechal Mascarenhas de Moraes”, entregue pela Associação de Veteranos de FEB, em cerimônia realizada no Salão Nobre do Clube Militar do Rio de Janeiro.

Para mim é muito importante o registro a seguir. No início da década de 1960, eu, Edmundo, e meus pais, Waldemar e Odete, morávamos na Vila Capivari, num sobrado situado na Av. Macedo Soares nº 371, de propriedade do saudoso Sr. Antonio Elias Jacob, comerciante em São Paulo que, anteriormente, usava esse sobrado para vir passar férias com a família – sua esposa, D. Inês, e os filhos, Antoninho e Jorginho. No local desse sobrado, hoje está instalado o Hotel Europa, de propriedade da Sra. Marisa Pagliacci Bortoloni. Nessa mesma década, quando morávamos nesse sobrado, meu pai tinha instalado na sala da frente da casa a saudosa, importante e memorável “Imobiliária Rocha”. Também nessa época, nasceram meus irmãos André Luiz e Maria Cristina,

Ao lado do sobrado acima mencionado, na época em que lá moramos, no início da década de 1960, havia uma casinha, também de propriedade do Sr. Antonio Elias Jacob. Nessa casinha, na década de 1950 e início de 1960, por vários anos, o saudoso, eminente e consagrado educador e professor Imídio Giuseppe Nérice – autor de mais de cinquenta obras ligadas, essencialmente, a temas educacionais, envolvendo, dentre outros temas, a filosofia, sociologia, psicologia e pedagogia – morou com sua esposa, a saudosa capitã Bertha de Moraes Nérice, anteriormente descrita, laureada enfermeira, formada pela 1ª Turma do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército brasileiro, veterana da Segunda Guerra Mundial, tendo prestado relevantes serviços à Força Expedicionária Brasileira – FEB, no teatro de operações da Segunda Guerra Mundial, na Itália, durante o período de 1944 a 1945, tendo sido condecorada com as medalhas de guerra e medalha de campanha, em dezembro de 1945.

Nessa época também morava nos fundos dessa casinha, na qual morava D. Bertha como a chamávamos, praticamente como caseiro, o culto, gentil e saudoso Sr. Passos, pessoa de ótima conversa que, na época, me presenteou com um exemplar já usado do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de autoria de Dale Carnegie. Um guia sobre relacionamentos, seja no âmbito profissional ou pessoal, procurando fornecer, de maneira direta, técnicas e métodos para que qualquer pessoa alcance seus objetivos pessoais e profissionais.

Dona Bertha era muito amiga de meus pais e minha também. Sempre muito educada, solícita e pronta a ajudar em tudo que fosse necessário. Não posso me esquecer disso nunca. Nessa época, tive pequenos problemas de saúde, relacionados com o fígado. O médico que cuidava de mim nessa época, o saudoso, competente e magistral médico Dr. Nathanael Silva, mais especializado em medicina pediátrica, havia receitado algumas injeções que deveria tomar durante alguns dias. No início daquela década de 1960, não era muito fácil encontrar pessoas que soubessem aplicar injeções. Somente algumas pessoas que trabalhavam em farmácias ou sanatórios, além do saudoso enfermeiro Otto, que atendia grande número de pessoas em toda cidade. Felizmente, conversando com a D. Bertha ela se prontificou, de imediato, para aplicar as injeções que eu precisava tomar. Que honra e até muito orgulho, ter tomado injeções aplicadas pela D. Bertha, ou melhor, capitã Bertha de Moraes Nérice, grande enfermeira de renome nacional e até internacional que havia participado da Segunda Grande Guerra Mundial.

Posteriormente, D. Bertha comprou um pequeno lote de terreno nas proximidades do Grande Hotel e da Fonte Renato, em Campos do Jordão. Ali construiu uma pequena, aconchegante e bucólica casinha revestida de costaneiras de pinheiro (araucaria brasiliensis), tábua obtida da extremidade exterior ou interior de um tronco e que não é tão perfeita quanto as serradas da parte intermédia. Nessa época, seu caseiro era o conhecido João “Chato”, não por ser chato e sim pelo motivo do seu pequeno tamanho, até bastante atarracado. Morando em São Paulo, vinha para essa casinha em finais de semana e alguns períodos de férias. Fui visitá-la em algumas oportunidades

Enfim, aqui, para que não se perca no tempo e fique registrado para as futuras gerações de jordanenses e brasileiros, uma simples homenagem, um pequeno registro contando um pouco sobre a nossa enfermeira jordanense na Segunda Guerra Mundial, Bertha de Moraes Nérice, de saudosa memória.

Campos do Jordão, 12 de dezembro de 2018

Edmundo Ferreira da Rocha

 

 

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Edmundo Ferreira da Rocha

 

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