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Judas

 

 

Alto, ruivo, nariz ponteagudo,

Olhos gateados,

Cabelo comprido, barbudo,

Confiante e desconfiado.

Único discípulo que não era galileu

Nem chamado fora de Jesus.

No íntimo, fariseu.

Culto mas de pouca luz.

Viera de Iscariote atrás de Madalena,

Outrora dela apaixonado amante.

Encontrou-a bela, pura, serena,

Diferente daquela que fora antes.

De reavê-la perdida em esperança,

Recalcou o ciúmes.

Criando a hora da vingança

Afiava com ódio a faca de dois gumes,

Instrumento vil da traição.

Mas a pureza do Mestre o desarmou.

Fez-se santarrão.

Discípulo se tornou.

Madalena não se iludiu.

Fugia-lhe como o diabo da cruz.

Um dia, dedo em riste, o advertiu:

A vida dele não valia uma sandália de Jesus!

Judas caiu em si.

Vira-lhe nos olhos sentença de morte

Se mal fizesse o rabi.

E quanto o amor divino a tornara forte.

Dedicou-se à congregação.

Inteligente e muito prático,

Ordem pôs onde havia confusão.

Disciplinou o povaréu fanático.

Constituiu tesouro comum,

Controle ficando em sua mão.

Soma do trabalho de cada um

A todos produzia pão.

Os discípulos dedicavam-se ao Mestre,

As Marias ao labor doméstico.

Criava-se novo paraíso terrestre.

Madalena fazia perfumes e cosméticos,

A bom preço vendidos

Na alta sociedade.

Dinheiro ao tesouro recolhido,

Saindo aos leprosos e obras de caridade.

Pelo milagre do trabalho coletivo

A congregação tornara-se um celeiro.

Jesus o incentivo,

Judas dedicado obreiro.

Não se fazia querido

Mas útil, quase indispensável.

João, que se dizia discípulo preferido,

Fazia-o detestável.

Os galileus entre si viviam

Em fraterna camaradagem.

Evitavam Judas mais que podiam,

Por preconceito deixando-o à margem.

Jesus tratava todos por igual,

Atenuando a rivalidade.

O mundo, sua pátria, seu torrão natal...

Sua família a humanidade!...

Judas recalcava ressentimento.

Despontara nele uma idéia,

Aos poucos dominante sentimento:

A independência da Judéia.

Luta, sangue e morte,

O preço da liberdade!

Homem que arrastasse a multidão,

Por ele matasse e morresse!

Morrendo lhe pedisse perdão

Por não poder mais lutar...que homem esse?...

Judas olhava Jesus, duvidoso...

Manso e tão dominador,

Humilde e tão poderoso,

Desprendido e tão conquistador,

Másculo e tão afetivo...

Eis o homem!... Outro não pode ser!

Exclamou, batendo na testa, altivo.

Com ele, por Israel matar ou morrer!...

Pensar e logo agir, o seu feitio.

Jesus sorriu com indulgência,

Contendo-lhe o delírio doentio.

Recomendou-lhe calma e prudência.

Abriu-lhe os olhos à realidade.

Pela resistência passiva, bem possível

Levar o povo à liberdade.

Pela força, Roma invencível.

Jesus, ora e vigia.

Não te deixes cair em tentação.

Domina essa idéia doentia.

De amor e paz minha missão.

Judas não se convenceu.

Cabeça baixa, desiludido, se retirou.

Ao sonho da liberdade se recolheu.

Plano de ação elaborou.

A páscoa, festa da liberação,

Estava nas ruas de novo,

Forçar, pois, Jesus tomar posição

De luta ao lado do povo...

 

 

 

 

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