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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

João Leite está no céu. 


João Leite está no céu.

Quadro retratando João Leite na Praça do Capivari - Autoria Tarcílio Torres, o "Citrovit".

 

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João Leite fotografado por Walter Nicolau Junior

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João Leite fotografado por Walter Nicolau Junior

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João Leite fotografado por Walter Nicolau Junior

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Toda cidade brasileira tem os seus tipos populares e Campos do Jordão não foge à regra.

O jornal “Folhetim da Serra”, de setembro de 1980, fez uma pesquisa para saber qual a pessoa mais popular da Estância.

O resultado foi surpreendente: João Leite, 51 votos; Rosa Louca, 17 votos; Orlandinho, 13 votos e Mandioca-Pão, 5 votos.

As figuras populares surgem por algum tempo, perduram por algumas décadas e desaparecem da memória do povo.

João Leite chegou à cidade em 1.941, procedente de São Bento do Sapucaí, indo parar na Fazenda São Geraldo, de Raul Barbosa Lima.

Certa feita, levou uma chifrada de um boi bravo, na barriga, conseguiu a muito custo salvar-se, mas ficou meio abobalhado.

Ele tinha dois amigos fiéis, o cachorro Piloto e o saudoso Marcelo Duarte de Oliveira, que sempre levava, aos domingos, um prato de salgadinhos para João Leite.

Ele era um verdadeiro Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, redivivo. Velho e encarquilhado, pachorrento, ficava sempre sentado em algum banco da Praça São Benedito em Vila Capivari, seu lugar predileto, onde passava horas e horas sentado, quase sempre dormindo sentado, com as moscas a rondar seu nariz adunco e a face enrugada.

O andar era característico por causa do joelho valvo, acompanhado de seu fiel cão amarrado por uma corda.

As calças eram erguidas até quase o peito e uma calça estava sempre dobrada até as canelas. Sempre de paletó e chapeuzinho enterrado na cabeça. Era realmente um tipo popular que chamava a atenção de todo mundo.

João Leite tinha a mania de falar sozinho, resmungando e xingava a molecada que brincava com ele.

Quando Raul Barbosa Lima, seu patrão, faleceu, dona Helena e Ribeiro Marinho passaram a acolhê-lo e cuidar dele com carinho. Ele tinha um jeito todo especial de tratar as pessoas a quem queria agradar, chamando-as de “minha égua” ou “minha cabrita”.

Ele faleceu aos 104 anos de idade no Sanatório São Paulo. Ribeiro Marinho levava-o a passear com seu automóvel, mas um dia, ocupado, não o levou e dona Helena deu-lhe uma desculpa, dizendo que o marido vendera o carro. Quatro dias depois, apareceu Ribeiro Marinho para levá-lo a passear, dizendo a João Leite que aquele era um carro novo que comprara.

Um velhinho começou a olhar o carro, prestando atenção, até que disse ao seu amigo: “Eta Ribeiro de sorte! Carro azul da mesma cor, hein?”

Já passando os 100 anos, ele pediu à dona Helena que trouxesse o famoso Padre Vitor, da Rádio Aparecida, porque queria conhecê-lo e confessar.

Coitada da dona Helena! Procurou o Frei Moisés pedindo-lhe, pelo amor de Deus, que fizesse a caridade de apresentar-se ao João Leite como se fosse o Padre Vitor. Abençoou-o, deu-lhe a comunhão e ouviu a pergunta de João Leite: “Agora, Padre Vitor, já estou pronto para casar?”

Na sua missa de 7º dia, Frei Moisés indagou do alto do altar: “Há algum parente de João Leite aqui presente?” Dona Helena levantou o braço e disse alto: “Há”, ao que o sacerdote proclamou: “Ele já está no céu!”

Poucas pessoas em Campos do Jordão foram tantas vezes fotografadas, pintadas e entalhadas na madeira, como foi o João Leite, pela sua singularíssima pessoa.

Pedro Paulo Filho

01/02/2010

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=54

 

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