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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Casas antigas de Campos do Jordão 


Casas antigas de Campos do Jordão

Algumas poucas casas antigas de Campos do Jordão.

 

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Com relação às casas que existiam em Campos do Jordão, entre 1880 e 1900, com quase toda certeza, eram de madeira, de zinco e algumas de taipa ou pau-a-pique, também chamadas de tabique, estuque, taipal, com paredes feitas de barro ou de cal e areia com enxaiméis, (estacas ou grossos caibros que, com as varas, constituem o engradado das paredes de taipa, destinado a receber e a manter o barro amassado ou a massa de cal e areia) e fasquias de madeira (ripas).

Anteriormente às casas feitas de alvenaria (com paredes feitas de pedras justapostas e superpostas, de tijolos ou mistas), aqui em Campos do Jordão, a grande maioria era feita de madeira, normalmente de tábuas serradas dos nossos pinheiros de Campos do Jordão.

No ano de 1912, a primeira olaria de Campos do Jordão foi a do Dr. Robert John Reid, situada na Vila Nova, depois Vila Abernéssia, mais ou menos onde se encontra a atual Casa da Lavoura ou Agricultura, proximidades da antiga agência da Caixa Econômica Estadual, posteriormente, a segunda agência do Banco do Brasil, ao lado do Fórum Embaixador José Carlos de Macedo Soares. Até alguns anos passados, ainda se encontravam tijolos marcados com um “R”, na demolição das casas mais antigas. Essa Olaria, depois de fornecer materiais para a construção das casas de Joaquim Ferreira da Rocha, José de Magalhães, Guilherme Lebarrow e Vila Flora, acabou se tornando insuficiente e foi vendida para Ernesto Bremmer.

Só para se ter uma ideia, até o ano de 1914, não existiam casas de alvenaria em Campos do Jordão. A primeira casa de alvenaria (tijolos) foi construída depois da inauguração da Estrada de Ferro Campos do Jordão, entre os anos de 1914 e 1915, por meu avô Joaquim Ferreira da Rocha, com os tijolos fornecidos pela olaria do Dr. Reid. Meu avô chegou em Campos do Jordão com a construção da ferrovia e foi, dentre outros, um dos que ajudaram a fundar a Vila Nova. Octávio Bittencourt deixou registrado em seus escritos: “A figura de Joaquim Ferreira da Rocha, que chegou com a Ferrovia, construiu a primeira casa em Vila Abernéssia”. Essa casa foi construída na entrada da Vila Nova, posteriormente Vila Abernéssia.

As demais casas eram de tábuas provenientes das araucárias existentes em abundância em Campos do Jordão, e algumas casas, de folhas de zinco, metal normalmente corrugado, com que se cobriam casas, galpões, etc., e que, também, serviam para as paredes externas.

No ano de 1914, outra olaria, Fracalanza & Cia., de propriedade de Julio Fracalanza, foi montada nas proximidades da atual Parada Fracalanza, da Estrada de Ferro Campos do Jordão, para suprir as necessidades da construção do prédio do Instituto Dom Bosco, dos padres salesianos, e para a construção de mais uma casa de alvenaria, a residência de Júlio Fracalanza, nos anos de 1914 e 1915, durante a Primeira Guerra Mundial. A olaria começou a fornecer tijolos a terceiros, inclusive para a construção da casa de Felício Raimundo. Essa olaria foi vendida para Aldo Degli Esposti e, em seguida, passou a ser explorada por José de Araújo Negrão.

Na década de 1920 surgiram as olarias de Nascimento & Mondin, Arthur Rocha, e Roberto Backer.

Maior número de pequenas casas de madeira continuou a ser construído em Campos do Jordão, no final da década de 1920 e início da década de 1930.

Nessa época, Campos do Jordão, cidade em início de formação, vivenciou uma experiência quase inédita para esta região, que acabou fazendo parte da nossa história, e parte do resultado ainda perdura, para ser vislumbrado e apreciado por todos aqueles que aqui vivem ou que nos visitam com frequência ou em alguma oportunidade. Na Vila Ferraz – e anteriormente noutras vilas da cidade, como Abernéssia e Jaguaribe, na época em que não havia nenhum tipo de restrição para o corte de árvores em geral, muito menos algum tipo de preocupação preservacionista – a nossa querida e maravilhosa araucária (Araucaria angustifolia) ou “Araucaria Brasiliensis”, árvore símbolo da nossa terra, o nosso conhecido pinheiro – por muitos identificado como pinheiro-do-paraná, hoje devidamente protegido por lei específica –, era derrubada até meio indiscriminadamente, para a produção de madeira de excelente qualidade, que era empregada na construção de móveis diversos, madeiramentos e outras finalidades, especialmente nas construções de casas típicas de madeira, e enviada para diversas cidades paulistas para idênticas finalidades.

As casas de madeira de pinho, extraída do pinheiro de Campos do Jordão, eram construídas sobre pequenos pilares de alvenaria, pedras ou até de madeira mais dura e de durabilidade maior, como a aroeira e outras de espécies semelhantes, obrigando os assoalhos a ficarem suspensos, criando na parte de baixo os conhecidos porões. Estes, além da principal função de proporcionar a devida e necessária ventilação, evitavam que a madeira dos assoalhos ficasse ardida ou viesse a apodrecer. Também eram aproveitados para guardar lenha para os fogões e outras finalidades e pertences não utilizados com frequência.

Essas casas, algumas até seguindo pequenos e simples projetos, tinham suas paredes, depois de colocadas as estruturas necessárias, com vigas ou caibros, também de pinho, revestidas com as famosas tábuas de pinho, de 20 ou 30 centímetros de largura. Normalmente, depois de fechadas as paredes dessas casas, entre uma tábua e outra, sempre apareciam pequenos vãos, mesmo que o trabalho de colocação dessas tábuas fosse executado com muita habilidade e capricho, pelos melhores carpinteiros. Para evitar essas juntas abertas, eram colocadas as ripas, também de pinho, chamadas de mata-juntas, fechando essas pequenas aberturas, evitando a entrada de insetos e, mais que tudo, do vento, especialmente na época do frio intenso de nossas épocas de inverno.

A grande maioria dessas casas de madeira, depois de prontas, recebiam em toda a sua parte externa, uma boa demão de óleo de linhaça, óleo queimado de motor ou mesmo óleo de cozinha, previamente aquecido, quase fervendo, procurando assim, lacrar os poros da madeira, dando-lhe maior durabilidade, evitando o ataque de insetos como o cupim ou semelhantes. Essa mesma madeira, na parte interna das casas, recebiam em algumas delas o mesmo tratamento aplicado na parte externa. Na grande maioria das casas, via de regra, ou recebia umas boas demãos de verniz, tinta à base de óleo ou até esmaltes diversos, também com o intuito da preservação da madeira.

Em algumas casas eram colocados forros nos quartos e salas. Para esta finalidade eram utilizados os famosos forros de madeira denominados “paulistinha”, também feitos de madeira de pinho, preparados em máquinas especiais, dando-lhes uma espessura mais fina e tornando-os mais leves. Nas cozinhas e banheiros, mesmo nas casas em que estes cômodos eram construídos em alvenaria, o forro era feito de ripas de pinho sobrepostas, formando pequenos vãos em forma de quadrados ou losangos, para facilitar a ventilação, favorecendo a escoação de vapores, evitando a umidade nos banheiros e facilitando a escoação de alguma fumaça nas cozinhas, em virtude da utilização dos tradicionais fogões de taipa alimentados por lenha. Esses forros, normalmente nas salas e quartos das casas, eram envernizados. Nos banheiros e cozinhas, pintados com tinta à base de óleo ou esmaltados.

A princípio, não só esse tipo de casas de madeira de pinho, até outras construídas em alvenaria, eram cobertas com as famosas e barulhentas telhas onduladas de zinco, material metálico parecido com a conhecida lata, com certo tratamento especial que lhe conferia maior durabilidade, com ondulação semelhante à das telhas eternit ou brazilit, anteriormente feitas de cimento amianto que, na época da chuva, já faziam um grande barulho e, quando da precipitação de granizo, faziam um barulho enorme e ensurdecedor. Na época da tuberculose, até os primeiros e mais simples sanatórios tinham cobertura de zinco. Posteriormente, esse tipo de cobertura, aos poucos, foi sendo substituído pelas famosas telhas, até hoje utilizadas em grande escala, feitas de barro requeimado em fornos especiais. Aqui em nossa região, a telha mais utilizada, era da marca famosa e tradicional “Paulo Becker”, fabricada na vizinha cidade de São José dos Campos, pelo fabricante do mesmo nome.

No ano de 1942, o capitão J. M. Vieira Ferraz acabou vendendo o remanescente, maior parte dos lotes da já tradicional “Vila Ferraz”, a Nicolau Braga e a Francisco Clementino de Oliveira e sua mulher, Adélia Damas Romão Oliveira. Daí em diante, as casinhas de madeira de pinho foram surgindo aos poucos e ocuparam a grande maioria dos lotes de “Vila Ferraz”, transformando-a em bairro simples, aconchegante e tranquilo, ótimo para a moradia de grande parte da população jordanense.

Algumas poucas dessas casinhas de madeira, ao longo do tempo, foram desmanchadas ou completamente reformadas, alterando totalmente suas características iniciais.

A grande maioria dessas casas, construídas com a madeira do pinheiro jordanense, como prova do que está acima descrito, até esta data, ano de 2019, ainda podem ser vistas na nossa tradicional “Vila Ferraz” e adjacências, onde alguns dos proprietários do princípio ou os atuais proprietários dessas lindas, maravilhosas, aconchegantes e bem cuidadas casinhas de madeira, com a mesma preocupação inicial, utilizada com o intuito da conservação, procuram preservá-las a todo custo, mantendo-as muito bem pintadas com cores exuberantes, sempre com tintas à base de óleo, transmitindo-lhes graciosidade e durabilidade muito maior. Assim procedendo, estão garantindo a manutenção da história e cultura, das primeiras décadas da cidade de Campos do Jordão. Essas casinhas, construídas com madeira, quando bem conservadas e cuidadas, nos dão prova suficiente e concreta sobre a durabilidade da madeira do pinheiro, no caso, do pinheiro jordanense, pois grande maioria dessas casas, já tem quase oitenta anos, algumas, quase noventa anos, e continuam valorizando e embelezando a nossa tradicional “Vila Ferraz”.

Havia casas construídas totalmente de zinco. Em uma delas, localizada em Vila Abernéssia, nas proximidades da agência dos atuais bancos Itaú e Bradesco, morou por muito tempo o Sr. João Rodrigues da Silva, o João Maquinista, depois o Sr. Guimarães, pai do Guimarães do táxi, do Zé Aparecido Nunes, Benedita Augusta Guimarães, posteriormente, o Olegarinho Frozino, local onde está a galeria Via Candotti, da família Frozino.

Também, até final da década de 1920, a maioria das casas existentes em Vila Capivari eram feitas de taipa, porém, muito bem-feitas. Não eram feitas de taipa como os casebres dos nossos caboclos moradores nas roças, com pequenas varas de madeira, bambu e barro batido.

Lembro-me muito bem de que na Vila Capivari, muitas e grandes casas até muito bonitas eram feitas de taipa, inclusive sobrados. Dentre outras, a linda casa do embaixador José Carlos de Macedo Soares e uma em que morei há mais de quatro décadas, pertencente ao Sr. Antonio Elias Jacob, ao lado do Hotel Bologna, no mesmo local onde hoje está sediado o Hotel Europa. Somente fui descobrir e saber que essa casa era de taipa quando ela foi demolida. Depois de prontas, com as paredes desempenadas (endireitadas, aplainadas) e pintadas, pareciam casas feitas de alvenaria.

As paredes eram bastante grossas, os enchimentos eram feitos de madeiras trabalhadas e de tamanhos regulares, e essas paredes recebiam um revestimento com porcentagem de areia, cal e cimento e eram desempenadas com desempenadeiras de madeira, tanto por dentro como por fora, e depois pintadas, caiadas com água com cal ou com tinta a óleo. Quem olhava essas casas por fora e não sabia desses detalhes jurava que eram feitas de alvenaria.

Edmundo Ferreira da Rocha

13/06/2012

 

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