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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Perdoar não é somente divino. Também é para aqueles de bom coração. 


Perdoar não é somente divino. Também é para aqueles de bom coração.

Dr. José Antonio Padovan e Professor Rosalvo Madeira Cardoso

 

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No dia 29 de abril de 1962, o lamentável, indesejado e triste acontecimento envolvendo o então prefeito municipal, o médico pneumologista Dr. José Antonio Padovan, em seu segundo mandato (01/01/1959 a 31/12/1962) e o Diretor do Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão – CEENE, Professor Dr. Rosalvo Madeira Cardoso (16/03/1957 a 12/11/1963), maculou as comemorações do 88º aniversário da Cidade de Campos do Jordão. Essa notícia foi veiculada em jornal da capital do Estado.

Nessa oportunidade, eu era aluno do curso ginasial do Colégio Estadual e, com meus companheiros e colegas, participávamos do desfile comemorativo ao Dia da Cidade. Ficamos sabendo do acontecido alguns minutos após.

Após 43 anos do triste e sério desentendimento, não é o momento de procurar quem foi o culpado e, muito menos, entrar no mérito para estabelecer quem estava ou não com a razão. Abaixo, apenas alguns pequenos esclarecimentos para facilitar o entendimento sobre o trágico acontecimento.

Alguns dias antes da data do dia 29 de abril de 1962, o diretor do Colégio Estadual foi procurado por membro da comissão responsável pelos festejos do aniversário da Cidade, para colaborar com a solenidade, com o desfile dos alunos do Colégio Estadual. Assim sendo, o desfile foi ensaiado durante vários dias, com fanfarra, marchas e tudo o que era necessário. Infelizmente, no dia do desfile estava chovendo. O desfile, que estava marcado para ser iniciado às 9 horas da manhã, acabou atrasando. Por volta das 10 horas, o diretor do Colégio foi comunicado que, mesmo com chuva, haveria uma corrida que terminaria por volta das 10 horas e 15 minutos. Em seguida à corrida, se a chuva diminuísse e se o diretor resolvesse, o Colégio poderia iniciar o seu desfile mesmo com chuva. Logo em seguida, os estudantes iniciaram o desfile, marcando passo antes do cruzamento da ferrovia da Estrada de Ferro Campos do Jordão, proximidades da Estação de Vila Abernéssia. Na oportunidade, o prefeito repreendeu o professor de Educação Física do Colégio, lembrando que os atletas ainda não haviam corrido e que o desfile do Colégio estava atrasando a festa. Como o diretor do Colégio estava próximo, houve um rápido e lamentável desentendimento, com ofensas verbais ao diretor do Colégio, proferidas pelo Sr. Prefeito e, até física, ao Prefeito, por parte do diretor do Colégio, conforme declarações de pessoas que estavam próximas e assistiram ao incidente.

Após esse lamentável desentendimento, o diretor do Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão, por intervenção e denúncia do Sr. Prefeito, foi suspenso das suas funções pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Após essa suspensão, os professores e estudantes dos cursos secundários do Colégio entraram em greve, distribuíram um “Manifesto ao Povo”, explicando as razões de suas posições, e participaram de passeata pelas ruas centrais de Vila Abernéssia, em favor do diretor do Colégio Estadual. Essa greve durou 11 dias. O caso, após análise para apuração dos fatos, por intermédio da Comissão de Sindicância, nomeada pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, teve o respectivo processo desaforado como medida de precaução, evitando influências diretas ou indiretas. Após as conclusões, o diretor do Colégio Estadual foi reconduzido ao seu cargo.

Acredito que o histórico acima, mesmo sem entrar no mérito do acontecimento, dê noção sobre sua gravidade e repercussão.

Vou entrar agora no importante mérito dos dois protagonistas acima mencionados. Acredito que os relatos a seguir irão surpreender a quase totalidade das pessoas que tiveram amplo conhecimento ou, quem sabe, até presenciaram esse triste episódio da nossa história de Campos do Jordão.

Em 1998, quando eu já estava aposentado da Companhia Energética de São Paulo – CESP, prestava serviços para a atual Concessionária Elektro, que ficou responsável pela distribuição e serviços de eletricidade em onze cidades do Vale do Paraíba, entre elas, a cidade de Queluz – SP. O terreno onde foi construído o prédio em que estava estabelecido o escritório de Queluz foi adquirido do professor Dr. Rosalvo Madeira Cardoso, que foi o diretor do Colégio Estadual de Campos do Jordão, acima mencionado. O professor Rosalvo, embora residindo na cidade de Campinas – SP, com a família, frequentava muito a cidade de Queluz, considerando que sua esposa, da tradicional família Maciel, era de Queluz. Tinham, inclusive, uma casa nessa cidade, localizada ao lado da Igreja Matriz. Como eu conhecia o professor Rosalvo e havia estudado no Colégio de Campos do Jordão, onde ele havia sido diretor, toda vez que ia a Queluz perguntava para os companheiros da antiga CESP: “E o professor Rosalvo? Tem vindo por aqui?” Em determinada oportunidade, mesmo sem perguntar sobre ele, um colega me disse: “O professor Rosalvo está na cidade. Encontrei-me com ele hoje”. Não tive dúvidas, antes de sair de Queluz fui fazer uma visita ao professor Rosalvo.

Quando bati palmas no portão, ele mesmo veio abri-lo. Tanto eu quanto ele ficamos felizes com esse reencontro saudoso de muitas décadas passadas.

Conversa vai, conversa vem, relembrando diversos professores, alunos e pessoas daqueles bons tempos da década de 1960, não podia deixar de vir à tona lembrança daquele triste acontecimento que o envolvera e o Prefeito, Dr. Padovan.

Claro, ouvi paciente e atentamente a versão de uma das partes, contada pelo professor Rosalvo. Muita coisa eu já sabia, outras, porém, fiquei sabendo naquela oportunidade. Após as explicações e os comentários, resolvi arriscar e fiz uma pergunta ao culto e magistral professor Rosalvo: “Professor, agora que já estamos há mais de 35 anos do ocorrido, se o senhor me permite, vou arriscar uma pergunta: se o senhor encontrasse agora o prefeito Padovan, seria capaz de estender-lhe a mão e cumprimentá-lo?” A princípio, posso até dizer que fiquei surpreso com a resposta, porém, logo em seguida, posso afirmar com toda segurança que, partindo de uma mente altamente culta e privilegiada, de homem bom, digno, sério, trabalhador, excelente pai de grande família exemplar, composta de 17 filhos, de bons princípios e religioso, a resposta não poderia ser outra. “Claro, se eu encontrasse neste momento o prefeito Padovan, estenderia minha mão e iria cumprimentá-lo com toda certeza... Aquele episódio lamentável jamais deveria ter acontecido. Faltou um pouco mais de paciência e tolerância das duas partes.”

Em 2005, assumi, por um período de quatro meses, as funções de administrador “Pro-Tempore”, junto ao Sanatório São Paulo de Campos do Jordão, até elaboração e aprovação de novo estatuto e eleição de um novo presidente. O médico pneumologista inicialmente mencionado, Dr. José Antonio Padovan, naquela época, Prefeito de Campos do Jordão, durante mais de cinquenta anos, trabalhou como importante médico nesse sanatório, tendo sido diretor clínico e presidente, por vários anos. Nessa oportunidade em que lá prestei temporariamente serviços de administração, encontrava-me com o Dr. Padovan diariamente, pois ele continuava prestando seus serviços de médico pneumologista naquele hospital. Conversávamos muito, pois ele, como já havia sido prefeito do município de Campos do Jordão por duas administrações, conhecia e acompanhava os problemas relacionados ao município. Em uma dessas conversas com o Dr. Padovan, ele se lembrou do fato acontecido durante os festejos do aniversário da Cidade, dia 29 de abril de 1962, envolvendo-o, como prefeito, com o diretor do Colégio Estadual, professor Rosalvo Madeira Cardoso. Claro, como já havia acontecido em 1998 com o professor Rosalvo, também o Dr. Padovan contou-me a sua versão sobre o acontecido. Ouvi paciente e atentamente tudo o que o Dr. Padovan dizia. Também, muita coisa eu já sabia. outras, porém, fiquei sabendo nessa oportunidade. Sem dúvida, das duas narrativas que acabei ouvindo, contadas separadamente pelos dois envolvidos, algumas coisas eram divergentes.

Como havia feito com o professor Rosalvo, em 1998, lá em Queluz – SP, após as explicações e comentários do Dr. Padovan, resolvi arriscar e fiz para ele a mesma pergunta que fiz ao professor Rosalvo: “Dr. Padovan, agora que já estamos há mais de 43 anos do ocorrido naquele dia 29 de abril de 1962, se o senhor me permite, vou arriscar uma pergunta: Se o senhor encontrasse agora com o professor Rosalvo, seria capaz de estender-lhe a mão e cumprimentá-lo?” Incrível, pela segunda vez, fiquei surpreso com a resposta inesperada, porém, logo em seguida, como acontecido anteriormente, posso afirmar com toda segurança que, partindo de um homem culto, médico brilhante, de excelente família, trabalhador, excelente pai de família, de bons e íntegros princípios, sério, um dos melhores prefeitos municipais que, felizmente, tivemos em Campos do Jordão, a resposta não poderia ser diferente da ouvida anteriormente da boca do professor Rosalvo: “Claro, se me encontrasse com o professor Rosalvo, estenderia minha mão e iria cumprimentá-lo com toda certeza. O que aconteceu naquele dia não poderia ter acontecido. Faltou-me paciência e tolerância como também ao professor Rosalvo.”

Ao final dessa conversa, com grande satisfação e sentindo até grande orgulho em ter ouvido, mesmo depois de muitos anos, as duas partes envolvidas naquele lamentável episódio, sem a mínima preocupação de me convencer de quem estava com a razão, tive o prazer de dizer ao Dr. José Antonio Padovan: “Dr. Padovan, o senhor acredita que a mesma pergunta que lhe fiz há poucos minutos, fiz ao professor Rosalvo Madeira Cardoso em 1998, em sua casa na cidade de Queluz?” E lhe perguntei: O senhor gostaria de saber qual foi a resposta dele naquela oportunidade? Claro que o Dr. Padovan quis saber a resposta do professor Rosalvo, e então eu lhe disse: “Dr. Padovan, o professor Rosalvo respondeu praticamente igual ao senhor. Disse claro, em bom tom, que se se encontrasse com o senhor lhe estenderia a mão e o cumprimentaria.” O Dr. Padovan ficou muito feliz e, com certeza, aliviado, pois, por mais de 40 anos, esse incidente lamentável vinha visitá-lo periodicamente. Tentei entrar em contato telefônico com o professor Rosalvo, por diversas vezes, porém sem sucesso. Gostaria de ter informado o resultado da conversa que tive com o Dr. Padovan em 2005 e qual foi sua resposta. Tenho certeza absoluta de que ele também teria ficado muito feliz e aliviado, considerando que, durante mais de 40 anos, ele também foi visitado periodicamente pela lembrança daquele dia trágico, que nunca deveria ter acontecido.

Termino este relato muito feliz, agradecendo a enorme e inusitada oportunidade que tive de deixá-lo registrado para a posteridade e dizer: “Perdoar não é somente divino. Também é para aqueles de bom coração.” O tempo é um dos maiores e melhores remédios que podem nos auxiliar a mudar e justificar o entendimento de muitas das nossas decisões tomadas ao longo de nossas vidas, mostrando o quanto poderíamos ter mudado o rumo e os acontecimentos, evitando sérios transtornos e quase eternos aborrecimentos.

Parabéns aos grandes, queridos, eternos e saudosos amigos.

Edmundo Ferreira da Rocha

13/05/2015

 

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