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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

No tempo do Cine Glória. 


No tempo do Cine Glória.

Imagem do Cine Glória da década de 1950.

 

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Quem nasceu na década de 30 sofreu um terrível impacto com o extraordinário progresso tecnológico e a brutal transformação de costumes, iniciada nos anos 60. As pessoas nascidas naquele tempo, pasmadas assistiram ao nascer da televisão, a chegada do homem à Lua, a corrida interplanetária, o nascimento da informática com sua parafernália de computadores, celulares e internet.

Afora isso, os nascidos na década de 30 foram surpreendidos com a criação dos anticoncepcionais para as mulheres e os viagras para os homens.

Lá por volta de 1.958, o Cine Glória (hoje Espaço Cultural “Dr. Além”) funcionava a todo vapor, com seu “pulman” situado no andar superior, dotado de poltronas recobertas e o piso atapetado.

Esse local era preferido pelos espectadores de maior nível social.

Um belo dia, o jovem Pedrinho levou sua namorada para assistir um filme e para impressioná-la, comprou ingressos para o “pulman” do Cine Glória.

A única liberdade que Pedrinho tomou naquela noite foi a de colocar a mão direita sobre os ombros da moça, e, com a esquerda, segurar as suas mãos.

Era o filme nacional “Veneno”, produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em que participava a belíssima morena Eleonora Armar.

Logo que iniciado o filme, o “lanterninha”, naquele tempo uniformizado, acercou-se de Pedrinho e ao seu ouvido sussurrou: “O gerente do cinema está chamando o senhor lá fora”.

Surpreso, Pedrinho, levantou-se, deixou a namorada e foi falar com o gerente.

Em tom discursal, o gerente passou um verdadeiro sermão de quinze minutos sobre moralidade.

Pedrinho que era pequeno ficou menor ainda, quando o gerente terminou por dizer: “O senhor se retire.

Aqui é um lugar para famílias, não para sacanagens!”

Aniquilado, Pedrinho, deixou a casa de espetáculos, parecendo que o mundo iria desabar sobre sua cabeça.

A sua namorada também não entendeu nada, pois Pedrinho nada fizera de errado que atentasse contra a moral pública.

De tão ressentido com o episódio, ele somente retornou ao Cine Glória vinte anos depois, para assistir o filme “Emanuelle”, estrelado pela sensual atriz Sylvia Kristel, a grande estrela da época.

Uma das cenas do filme desenrolava-se dentro de um avião, quando a bela personagem começa a flertar com um passageiro que retribui. Do flerte passou-se ao abraço. Logo ela começa a despir-se e o passageiro debruçando-se, inicia o sexo implícito, começando então tudo que o leitor já sabe de cor e salteado.

Gemidos gozosos, exclamações frenéticas, respirações ofegantes e ritmadas, interjeições sussurrantes e um vai e vem que não acabava mais.

Pedrinho que havia estudado em colégio de padres e até ajudara na celebração da missa, ficou pasmado e envergonhado.

E teve vontade de gritar: “Cadê o gerente que não vem me expulsar do cinema? Cadê o “lanterninha” que me retirou do “pulman”?

Levantou-se da poltrona no escuro, fulo de raiva, e pisando duro desceu as escadas, xingando a humanidade.

Não foi preciso, nem o gerente nem o “lanterninha”, para retirá-lo do Cine Glória. Pedrinho expulsou-se a si próprio, nocauteado pela modernidade e indignado com a injustiça que sofrera há vinte anos.

É que os tempos haviam mudado e ele continuou a viver nos anos 50.

Pedro Paulo Filho

15/04/1998

 

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